storm.

. segunda-feira, 10 de maio de 2010

a mesma vista da mesma janela do mesmo céu do mesmo azul.
os ingredientes perfeitos da subúrbia insanidade caseira que povoa a mente de um louco sem rumo ou sabor, seco quanto um lago feito deserto. deserto, e afundado em rotinas tão velhas quanto a própria água, que desaparece de segundo a segundo. infiltra-se na areia, a areia que engolfa os pores do sol e a corrida das marés,  o verde dos cumes longínquos, a dor de erros perdidos.
tudo ausente.
morreram, asfixiados por debaixo de um lago sem água.
tudo o que resta são cinzas que repousam a fitar o vazio. porventura do vazio sopre um dia vento, porventura do vazio caia alguma vez a chuva, porventura do vazio, nasça, um dia, alguma coisa.

há sete minutos que as teclas vibram pelo teclado fora, e as nuvens continuam as mesmas, o céu escurecido, o sol ausente. ainda os mesmos vidros da mesma janela, ainda as mesmas luzes vermelhas que brilham ao fundo, assinalando ali o final do horizonte possível, as luzes da fábrica mais distante que a minha janela alcança.
ainda a mesma nostalgia sem sentido.
ainda os mesmos aviões, os mesmos traços no céu que cruzam norte e sul, trópicos e árcticos.
e ainda eu aqui, sentado, empunhando teclas e recordações sem qualquer sentimento, desferindo golpes entre frases, cofiando a barba crescida; ansiando talvez a minha própria ilha deserta.

quinze minutos. um terço do Apollo de Eno já se foi, os candeeiros acendem-se. só mais um pouco os olhos fechados.
só mais um pouco a praia comprida, os cabelos longos, a terra da grande nuvem branca. só mais um pouco o asilo, o afastar dos sujos azulejos de casa de banho que tresanda ao sol de meio dia de um verão demasiado quente, plantas demasiado secas, lagos desérticos e pinheiros caídos.
é a poesia escrita com sangue menstrual pelas paredes cobertas de merda seca de um qualquer parque abandonado.

vinte e cinco minutos. dois terços. inutilidade.
perco-me nas palavras curtas de significados longos.

vinte e sete. amanhã chove. adeus.

2 comentários:

Maria Batata :D disse...

Oooolha!
Já tinha perdido a esperança de ver aqui mais um post ^^

"e ainda eu aqui, sentado, empunhando teclas e recordações sem qualquer sentimento, desferindo golpes entre frases, cofiando a barba crescida; ansiando talvez a minha própria ilha deserta." - que imagem de Gill Scott Heron. Lindo*.*

:')

*

sónia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
 

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