The Lights of Lisbon Were Shining There for Us (Launchpad) ~ III

. terça-feira, 13 de outubro de 2009





(Mono - Moonlight)


The Lights of Lisbon Were Shining There for Us ~ III
(Launchpad)


perspectiva.
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é tudo uma questão de perspectiva.
uns preferem ver a vida de cima, olhando discretamente o quotidiano dos demais como simples formigas, meros ratos de laboratório, escrevendo teses sobre o tudo e o nada; como que puxando o simples globo por cordéis.


outros, preferem a simples e directa vista horizontal que a natureza nos proporciona, abraçar os sentidos como o seu hino e viver num plano invariável em que os montes, os vales e os rios parecem caber na mesma dimensão tépida.


os que fitam as profundezas, de olhos semi-cerrados, acreditam buscar o segredo virgem escondido por entre brumas.
são corajosos, os que se aventuram onde nenhum outro homem foi, a dimensão vibrante da vertigem.
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há ainda os que não se preocupam com a vista dos topos das nuvens, ou com a linha correctamente dimensional que a horizontalidade da vida proporciona; as profundidades não lhes pintam os sonhos nem lhes luzem a chama apagada.


tão próximos, tão distantes; os sonhadores para os quais três perspectivas nunca foram suficientes:


as nuvens nunca estiveram altas o suficiente para o azul se enegrecer e para as casas desaparecerem; a simples dimensão de uma vista em linha recta numa teve curvas suficientes; as profundidades nunca tiveram a textura de uma queda livre pelas escarpas da mente.
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mas, não passam de perspectivas; visões ténues de uma subconsciente realidade que nos abraça, destruindo-nos.


porque não fitas tu o céu?
enquanto as pálidas luzes de Lisboa nos abraçam num sorriso conjunto, brilhante.
ainda brilham nos teus olhos enquanto o Sol se põe.
entardece.
porque não fitas tu o azul, o mais profundo dos azuis, rasgado por farrapos nublados; insectos que contrastam contra o crepúsculo?
deita-te na relva.


enquanto as luzes nos fitam; estão calmas.
o ar silencioso, vibrante.
como uma cor transcendente dos sentidos, uma mera sinestesia existencial.
deita-te na relva, não tenhas medo.
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agora que estás deitada;
já podes ver a Lua, ainda a nascer.


vamos, antes que levante a maré.
set sail.


3 comentários:

Marta Gil disse...

Acho que dos que li, este foi o meu preferido. E gostaria de possuir todas as perspectivas, é verdade.
Adicionei-te no lastfm, saliento apenas que não sou estrábica (faz tudo parte de um momento de loucura perpétuo).

ps: O facto de as maiúsculas "terem desaparecido com o tempo" poderá ser um facto a teu favor, pois é um marco da tua escrita.

Maria Batata :D disse...

Fantástico.
Um dia vou ser como tu :D

sónia disse...

ponto final, parágrafo.
há ainda os desprezáveis ratos de laboratório, cujo movimento resume-se à maldita caneta, que tece as malditas teses sobre o tudo e o nada. aos poucos tornam-se vazios, à medida que a tinta da caneta vai escasseando. até que se dão conta que o nada pode ser tudo; a simples vista horizontal que a natureza lhes proporciona, a aventura, o sonho.
a partir daí, essa tal visão ténue de uma subconsciente realidade não os destroi, alarga-lhe os horizontes; fitam o céu, deitados na relva de olhos reluzentes.

eu cá prefiro a perspectiva do rapaz de olhos rasgados e peruca farfalhuda que se apaixona por cada pormenor da sua perspectiva.

 

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